sábado, 31 de dezembro de 2011

Um brinde ao otimismo e à mudança


Acho interessante esse negócio de “Virada do Ano”. Sempre as mesmas festas, os mesmo rituais, os mesmos programas de televisão, (quase) sempre as mesmas pessoas.
E depois da tal “virada” durmo tarde como todos os dias do ano que passou, com a barriga cheia como após qualquer boa festa que freqüentei e tendo o dia seguinte regado à preguiça e comida requentada.
Se o dia seguinte é o ano seguinte não alterou em nada, foram os mesmos hábitos e a mesma rotina. Mais do mesmo.
Mas como todo ritual “mundial” tem um propósito e este costuma ser ridículo (pra não dizer revoltante), uso os olhos do otimismo pra extrair o que há de bom.
Na realidade, a tal “virada do ano” é mais uma jogada de marketing pra fazer burguês feliz, ou desculpa pra fazer muita festa e muita merda. Ou talvez as duas coisas, dependendo de quem comemora.
Só que a simbologia por trás disso é a paz, a alegria, a união, a mudança, a esperança, um novo ano chegando, uma nova vida pela frente. E isso é lindo, sem sombra de dúvida.
Só que, venhamos e convenhamos, tudo isso só é possível com a própria mudança. Ideias velhas num caderno novo continuam sendo velhas. E quando se sabe a vida toda (ou pelo menos há algum tempo) que vermelho não é preto, não é em uma noite que se convencerá do contrário. Cada um tem um tempo necessário pra ser convencer ou ser convencido a respeito de algo, e não discordo, pois é fato. Mas acredito que sempre será um processo mais longo que um minuto ou um voto de “feliz ano novo”. O desejo de mudança deve estar rondando há algum tempo para que seja colocado em prática de forma tão brusca.
E dessa forma, acabo por ver a “Virada do Ano” como o melhor impulso de mudança possível. Se já havia vontade, a troca de calendário (que, queira ou não, muda a rotina, há não ser que você não trabalhe nem estude e só mantenha contato com pessoas que fazem o mesmo) vai dar forças para que isso aconteça. Se não havia vontade, vai ser mais um festival de hipocrisia seguido de um ano “mais do mesmo”, que é bem comum em alguns casos de gente “super bem resolvida” (ou talvez acomodada…).
Portanto, a “Virada do Ano” é bem mais que interessante. Acho válido fazer um balanço do que quero e do que não quero mais. Os hábitos que quero conservar e os que quero destruir. Pensar nas metas possíveis, nas impossíveis e nas ridículas. Querer melhorar a mim antes de melhorar o mundo – o que também não impede de tentar fazer os dois ao mesmo tempo.
E uma das coisas mais importantes, não esquecer que “pessoas são seres humanos”, como diria uma amiga minha. Ok, explicando: todos cometerão erros. Vários, muitos deles. Simples, complicados ou terríveis. Comigo, conosco, com eles. A questão é evitá-los, e se isso não for possível, consertá-los. Caso isso também não seja possível, adaptar-se às mudanças impostas por eles. Não é fácil, tampouco impossível.
Então, pra todos aqueles que lerem esse texto, desejo apenas vontade de mudança. Seja no comprimento dos cabelos, seja nos valores, o importante é mudar o que não te agrada mais ou o que já te cansou a beleza.
Nunca vi mais do mesmo fazer bem a ninguém, e se conhecer algum caso, pode ter certeza que avisarei.
Que em 2012 tudo seja melhor. Principalmente você.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Ainda não


Havia serenidade ao observar a lentidão dos passos. Cada um deles era analisado como uma convincente pedra falsa, com um carinho que vai além do peso do coração.
Conforme os passos perdiam-se de vista, a bússola parecia perder seu norte. Mas que tolice pensar assim quando se sabe que a distância percorrida era pelo sabor de novos ares, jamais pelo amargo da dúvida.
E a paciência já não era uma virtude àqueles que apenas esperam, mas sim uma condição. E sua razão seria desconhecida enquanto os passos não voltassem à vista, até mesmo por aqueles que já sentiram a dor de não ter-se.
Ninguém jamais seria capaz de explicar a lentidão daqueles passos distantes.
E nem precisaria.
Daquilo que eleva a alma não se necessita entendimento, e sim que se sinta.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Por um viés de realidade

Procurava por um repouso. O cansaço das longas jornadas não se dissiparia em uma só noite.
O que havia de errado? It’s only destiny, my little child.
Enquanto a procura continuava, cada vez mais incessante, as cortinas fechavam-se em ríspida velocidade. Talvez fosse apenas o medo do viajante misterioso, tão sequelado pela falta de abrigo e pelos velhos hábitos.
Mas estes hábitos eram maiores que o medo, então abriu as cortinas. É o mesmo cenário de outrora, e descubro que elas não fizeram a mínima diferença. Olhar através era o mesmo que retirá-las, pois o cenário era tão interessante que nada era capaz de desviar a atenção.
Observando com um pouco mais de zelo, acordei. Havia um viés de sonho no embolorado daquela realidade, e é certo que as cortinas continuariam ali. Tão úteis e tão desnecessárias, meu Deus. E entre tanta observação, foquei no viajante repousando. Um misto de medo e desejo inundava seus ávidos olhos.
O que havia de errado? There’s no fucking fate, my little child.
Continuei a observar. O mesmo cenário de sempre me observava de volta. A insistência parecia não fazer sentido, mas eu não me cansaria tão cedo. Ela era mútua.
De fato eu já havia acordado, mas sabíamos que não era de nenhum sonho. Dentro daquele cenário, é pelo viés dos olhares que o real salta aos olhos. Enquanto o viajante gritava, eu respondia. Sempre pelos olhos. E nesse diálogo incessante através do silêncio, a realidade me repousou.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Viver é melhor que sonhar


As músicas continuam tristes, mas não como um dia foram. São mais dramáticas e menos realistas. Doem menos, confortam mais.
Seria frieza? Talvez, se frieza for entendida por jatos d’água em meio a um incêndio sufocante.
O nó no estômago e as sensações angustiantes persistem, mas não da mesma forma ou freqüência de algum tempo atrás. São breves e suportáveis, esperadas e edificantes.
Seria conformismo? Talvez, mas alguma espécie de conformismo saudável e maduro, ancorado numa espera dinâmica e sem pressa, tranqüila, pacífica.
Os sentimentos continuam em uma montanha russa, mas bem menor e bem menos veloz, praticamente prestes a parar. Eles se parecem com desespero, lembram angústia e exalam irracionalidade. Mas trazem certeza na fé, e fé na certeza.
 Seria desistência? Talvez, mas alguma espécie de desistência da imaturidade, desistência do desamparo, desistência da angústia.
A cronologia nada diz a respeito do tempo que realmente vivemos. São apenas números, impostos por alguém que era bom em cálculos em tempos passados.
O verdadeiro tempo traz memórias, idéias e reflexões que são vistas como válidas ou não em referência as horas do dia ou aos números no calendário, quando na realidade deveriam ser interligadas com a intensidade e a veracidade com a qual são sentidas, ganham vida e são vida.
Não são relógios ou calendários que determinarão o sentido de uma espera, mas sim as experiências e os sentidos atribuídos à ela. Existem diversas frases feitas a respeito da forma com que se deve encarar a vida, como se manuais iguais correspondessem a seres humanos diferentes, como se os sentidos de uma vida pudessem ser facilmente atribuídos à outra, como se cada um de nós não fosse único e complexo o suficiente para se explicar apenas a si.
No calendário, a cada página virada o meu tempo se esvai depressa. Por mais que a lentidão das horas consuma o pensamento, ao fim de todas elas o sentimento é de sabedoria, numa espécie de certeza absurda, inexplicável e real de que tudo é capaz de se tornar cada vez mais sincero e equilibrado, acronológico e maduro. Que há sempre chances para quem deposita suas esperanças em alguma fé, e que na espera eu sou capaz de reconhecer minha sabedoria e abrigar meu tempo.
Eu não conto mais meus dias; eu vivo.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Fantasmas Permanecem

Texto escrito por meu amigo Gustavo de Campos, que tem visto de perto os acontecimentos na USP. Apreciem!


Socialismo, capitalismo. Esquerda, direita. Desculpem-me, prefiro não escolher lados. Não entendo isso como omissão ou justificativa para uma suposta passividade. Prefiro pensar que estou “do lado de cima” simplesmente e por isso consigo ver com menos obstáculos, mesmo correndo o risco de ser surpreendido por alguma passageira nuvem. Arrisco dizer que são esses obstáculos que nos impedem de ver o quão podres estão as entranhas legislativas, executivas e administrativas de nosso país ou o quanto necessitamos de uma educação renovada e não atada ao que nos mantém em estado permanente de torpor.
Tenho visto e acompanhado de perto os acontecimentos na Universidade de São Paulo, uma vez que estudo na mesma, e parece-me a instauração (consolidação ou exposição talvez melhor me expresse) de uma ditadura sob a sociedade tão facilmente guiada pelas luzes da mídia. Ditadura sim. Ou você acha que ditaduras se baseiam apenas em torturas, pessoas jogadas no meio do oceano e governos militares à moda antiga? Toda ditadura que se preze sabe controlar as massas, mantê-las sem informação alguma ou afogadas em falácias. Pensamento livre é um perigo maior do que qualquer guerra. O manual da boa ditadura também prevê, como resultado da privilegiação de uma classe e a tentativa de eterno controle do poder, pequenos focos de resistência vindos de alguns badernistas que, por coincidência, estudam e pensam a cidade e a sociedade. Mas o que podem fazer esses arruaceiros quando toda a anestesiada sociedade também os julga assim depois de já estar espumando pelas ventas mentiras tão bem contadas? Vão morrer na praia, certeza. Tenho que dar o braço a torcer: não seria tão inteligente a ponto de bolar um plano de tamanha eficácia; que fantásticas máquinas essas ditaduras.
Fatos como a não pacífica operação dos mais de 400 policiais na reitoria da Cidade Universitária, a denunciada manipulação da depredação ocorrida dentro da mesma, a omissão do real número de protestantes na passeata realizada no centro da capital paulista ou a presença da PM, na Cidade Universitária ou não, que nunca foi o verdadeiro problema, mas este o é sua subordinação a um governo tamanhamente corrupto podem ser mais bem esmiuçados ou compreendidos em blogs e textos que circulam pela internet em geral e, principalmente, em suas redes sociais. É só preciso correr atrás dos mesmos e, ainda que neles, ativar o filtro e caprichar no discernimento. O que pretendo realmente abordar aqui é a questão da equiparação de certos protestantes com a ditadura militar brasileira e a massiva opinião pública que, após chama-los (chamar-nos pode me apetecer mais) de vagabundos maconheiros, acusa-os de um delírio revolucionário. Não, não perseguimos o coelho até a toca. Ou talvez até tenhamos perseguido aquela bola de pelos brancos, mas não entramos. Não acho que existam mais aqueles fatos escancarados da época da ditadura em que pessoas eram colocadas na cadeia apenas por suas ideias e quem perguntasse ao governo o porquê de tal prisão seria respondido, senão com sua própria prisão, com um “porque ele pensa diferente de nosso regime” ou mesmo órgãos exclusivamente voltados ao desaparecimento de indivíduos, tampouco concentrados em seu encontro com os peixes do oceano. O que ocorre hoje é muito mais sútil, camuflado; tudo envolto em uma aura democrática e benevolente.
Uma vez com a mídia em seus bolsos, e consequentemente a grande maioria da população em coma profundo, o governo (ou governo seria um eufemismo para controle total?) passa a atacar os possíveis focos de proliferação do mosquito da consciência crítica: as universidades que, ainda, não se encontram sob seu circulo de amizades. Contudo, ao contrário do mosquito da dengue, não morreremos com inseticida ou seremos evitados com areia no pratinho e nossa proliferação não se dá em água parada, mas sim na agitação da mesma pelas injustiças podres que nos atiça o olfato. De forma alguma quero colocar os protesto e atitudes até então tomadas como algo de pura coerência em sua totalidade, mas, com o passar do tempo e fortalecimento dos objetivos e ideais, as coisas se tornaram (e continuam se tornando) cada vez mais legítimas, justas e verdadeiras. Não estamos inebriados ao som do flautista e sabemos que a “Revolução de 64”, pela qual a PM mantém uma estrela em sua manta, foi-se a muito e o contexto é diferente, é outro. O que não se faz diferente é a corruptividade do ser humano frente à possibilidade de poder e enriquecimento. Também não nos é diferente a luta de alguns que ainda guardam esperanças no espírito humano e acreditam que essa corruptividade é passível de cura ou, ao menos, alento.
Volto a repetir: que fantásticas máquinas essas ditaduras; procuram cortar as ideias diretamente na formação de quem as futuramente terão. Ato este que esclarece bem os seus objetivos de manter vigente um poder privilegiador de uma elite monetária e aristocrática. E, por favor, não venham rebater isso dizendo que é uma visão esquerdista; é apenas a constatação que muitos não fazem por incapacidade não culpável, alguns poucos por incapacidade culpável e outros por conformismo. Então que essas linhas escritas no dia 15 de novembro, comemoração do ambíguo dia de proclamação da república em nosso país, misto de ideal libertário e nova forma de controle da elite monetária, assim como outros que por aí circulam, seja um inicio para não uma aceitação sem resistência do que aqui foi lido, mas sim um estímulo para a procura de informação em meios alternativos que não apenas o conveniente e popular, bem como sua consequente crítica e assimilação. Que se inflame o uso das ideias acima da força, o uso do livre pensamento a frente das cordas da marionete, julgamento de importância e legitimidade de protestos e reivindicações.
Existem protestos e protestos, é claro. Condeno o uso de qualquer tipo de violência, mesmo nas manifestações justas; esse não é o caminho, um soco jamais imprimira uma marca tão forte quanto um texto ou discurso bem fundamentado. Entretanto, os ideais perseguidos pelos protestantes da Universidade de São Paulo e de todas que a nós se juntaram em defesa da digníssima liberdade de pensamento, base de toda sociedade que coloca o ser humano à frente da sublevação de qualquer autoritarismo, se fazem não só justos, mas necessários. Não são fruto de uma juventude inflamada de hormônios pseudo-revolucionários como atesta a horda quase inculpável de credores informativos do estado. Já dizia Eduardo Galeano, a quem hoje ouso chamar de mestre: desde que entramos na escola ou na igreja, a educação nos esquarteja: nos ensina a divorciar a alma do corpo e a razão do coração. Nossa alma e corpo aqui são um único ser, um expressão do outro, movido pelo seu par e desejoso de tatear os ares de uma educação renovada e digna de libertar-nos das amarras que tão passivamente aceitamos vindas do altar luminoso, comunicação com a divindade autoritária-democrática. Razão e emoção também aqui não são Caim e Abel; se é que essa distinção, teórica que seja, pode existir, acredito que a razão pondera nossos atos e coloca nossos argumentos nos lugares que almejamos, mas o coração conecta essas palavras jogadas ao ar com o coração de outros que estejam abertos a ouvir. Se é que essa divisão, uma vez que não pode ser realizada na torrente das ações e resultados, pode ser ao menos teorizada e hereticamente insultando Galeano, afirmo: a razão escreveu este texto, mas foi o coração que pediu.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Angústia

Está calor - mas apenas lá fora, já que o suor é frio.
No estômago deram um nó e na boca só se têm sede
(não é de água, o estômago não permitiria).
Peço por segundos de paz à espera da resposta,
mas - por Deus! - eu sei que só a resposta trará paz.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Primavera?


Eu quis cuidar do seu jardim, mas as rosas estão murchando antes de florescer.
A terra é boa, mas as ervas daninhas estão sufocando os botões e não posso arrancá-las pois estão na raiz.
Tentarão as rosas crescerem sufocadas ou morrerão todas?
São flores fortes, mas acho que precisam de cuidados maiores.
Ainda quero cuidar do seu jardim...



domingo, 6 de novembro de 2011

Solidão #2

O vazio se consome novamente,
agora num finito visível,
mas será realmente oco?
Não pode ser; não é
Mas quem disse que era certeza?

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Todo carnaval tem seu fim

A ressaca moral das noites mal dormidas regadas pelo melodrama das músicas descompassadas junto aos textos de descarga emocional fervente que quase doíam como ferida aberta não conseguiram manter as velhas concepções estagnadas pelo usual, já que o acaso demostrou ser crença fiel na falta de fé, uma vez que eu praticamente vi a tristeza cruzar meus olhos enfurecida pelo adeus sem saudade e por ter que deixar a felicidade entrar e apoderar-se do posto que um dia foi seu. Então a calmaria de uma quarta feira de cinzas envolveu-me através de chamas receosas em serem mortais, que ardem com o fogo invísivel e inexplicável que um dia o poeta disse que seríamos capazes de sentir. E por acreditar além da crença do poeta, porque não desejar que a calmaria beire o infinito?

terça-feira, 18 de outubro de 2011

The bitterness inside is growing like the new born


Antes de começar este post, gostaria de contar os motivos que me levaram a escrevê-lo: meu último post sobre padrões de beleza (E já nem sei quem mais é o culpado nessa história), umas leituras enriquecedoras no Escreva Lola Escreva (me levando a modificar meu status do último texto de "culpada" à "tentativa de não sê-lo" mandando um foda-se inacreditável ao excesso de pancinha sem desistir de comer minhas porcarias ou de manter minha saúde indo à academia), um episódio de Supernatural (que tratou muito bem de questões de julgamento e culpa) e o meu gosto por interpretar músicas que, aparentemente, não fazem o menor sentido. Aí vai meu devaneio:

"How much are you worth?
You can't come down to earth.
You're swelling up,
You're unstoppable."



Esse trecho é da música New Born, da banda britânica Muse (da qual eu sou fã, diga-se de passagem), e é uma das minhas músicas preferidas. A letra na íntegra é deveras confusa, mas pequenos trechos me permitem uma interpretação relevante.
Traduzindo mal e porcamente, o trecho diz "Quanto você vale? Você não pode vir à Terra. Você está inchando, você está desgovernado."
É uma espécie de aviso ao ser humano, um aviso um tanto quanto deprimente, na realidade.

Uma vez vivendo no planeta Terra com os ditos racionais seres humanos, o julgamento é pedágio para relações sociais. Cada um tem um valor diante de cada ser humano, valor este que muitas vezes independe de quem você realmente é. Explicando: para uns, o que conta é caráter, e para outros, aparência. Só que a princípio, o primeiro pedágio para todos é a aparência, infelizmente. O que diferenciará uns dos outros é que alguns irão elaborar suas concepções sobre o externo alheio e se limitar à isto para definir seu caráter, enquanto outros irão em busca do caráter partindo da primeira vista externa - seja esta agradável ou não -, tornando a aparência final mais bela ou mais horrível que a inicial. Para mim, avaliar alguém apenas pelo externo é sinal de caráter podre, logo, aparência podre, mas provavelmente para quem faz isso, minha forma de pensar é que é podre, logo, minha aparência também o é.

Partindo deste princípio, o belo (uso o termo como expressão para beleza total, "corpo e alma") é claramente relativo, e nossos valores (no sentido de valer algo para alguém, não no de concepções ou ideais) têm uma variedade infinita, já que eles dependem de quem está nos julgando.
Portanto, como a música se chama New Born (recém nascido), sinto que o trecho é um aviso àquele serzinho que está chegando agora ao planeta Terra. Um aviso cruel, na realidade, já que ao passo que ele pergunta "quanto você vale?" não espera nem uma resposta para sentenciar que o fulaninho não deve vir, talvez porquê ele vá demorar a valer algo, já que enquanto ainda não julga, não produz ideias, não almeja e consome muito pouco por si mesmo, não move a máquina capitalista, que é o foco desse mundo, ou talvez porquê ele vá sofrer demais quando valer alguma coisa, uma vez que o "você está inchando, você está desgovernado" pode ser entendido por um "você está crescendo, vai ter que se adaptar à si mesmo mas principalmente aos outros, vai se desesperar e querer voltar a ser um recém nascido".
Ou seja, Matthew Bellamy nos agraciou com um sucinto, belo e melodioso "você vai se foder legal por aqui, amigo."

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

E já nem sei quem mais é culpado nessa história


Engordei. Já sabia, mas hoje quis constatar na balança.

A primeira reação foi uma cara de "fodeu" reprimida, pois engordei mais do que imaginava...

E toda vez que isso acontece (o que é algo relativamente frequente) eu fico aqui me perguntando quem foi o puto infeliz influente na sociedade que num momento da história decidiu que barriguinha era coisa feia e que a ausência dela é que era coisa bonita. Rapaz, cê fodeu minha vida e a de muita gente que curte comer, sabia?

E logo após esse pensamento, já rebate outro: "mas barriga sobrando é coisa feia mesmo", e a partir daí, justifico as horas de academia e o sofrimento de não comer as coisas que tanto amo.
Só que pera lá um pouquinho: por causa de um puto que em um determinado momento da história disse que barriguinha era feia, eu e mais umas 2 gerações anteriores temos intrínseco em nossos seres a ideia de que magreza é beleza e saúde, e gordurinhas feiura e doença.
Só que obviamente não é bem assim, já que nem todo magrelo é saudável e nem todo gordinho é doente. Acho que só achamos que o magro é mais bonito porquê sempre nos foi colocado assim.

E nessa daí eu, que nunca fui de ligar muito para aparências, me sinto afetada pelas concepções que me impuseram. E (in)felizmente, acho que não é só comigo que isso acontece.
Então diante disso, fico no impasse de perder os quilinhos em excesso ou mudar as concepções. Os dois são imensamente difíceis, mas mudar as concepções é quase impossível diante do medo de se sentir taxada de gorda e feia por qualquer pessoa ou instituição, gerando sentimentos de incapacidade e insegurança, coisas que não deveriam ter nada a ver com aparência externa. E aqui eu chego num ponto que não consigo explicar, pois a opinião de um estranho é irrelevante, só que por mais que ninguém veja a barriguinha sobrando, eu não consigo me sentir bem sozinha diante do espelho. Eu não consigo mudar minhas - minhas? - concepções.

É um auto-julgamento carregado pelo peso das futilidades que eu sempre enojei, aliás, carregado da futilidade de estar próxima de um padrão de beleza que sei lá eu porquê raios é assim. A minha sorte é ter cabeça o suficiente para não fazer parte de um grupo de anoréxicas e/ou bulímicas, o que hoje em dia é uma coisa comum diante das exigências sociais - ridículas, diga-se de passagem - de beleza.
Enfim sociedade, constatei que você está podre há muito tempo, só que ao te jogar toda a culpa, vi que não consigo negar uma de suas mais ridículas imposições.
Devo eu achar que a culpa por parte desta podridão também é minha? Temo que sim.









P.S.: Acho que as pessoas gordinhas podem ser tão bonitas quanto as magras, pois o que entendo por beleza não é uma questão de peso. Eu posso continuar tendo a mesma beleza com muitos quilos a mais, a diferença é que não me sentirei confortável assim.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Sobre gente que faz humanas mas não é humana, não parece gente e deveria sumir do mapa (ou pelo menos da faculdade)

É engraçado ver como valores distorcidos se conservam.
Nas escolas - ou pelo menos nas que eu frequentei -, as notas sempre foram muito valorizadas, pois quanto maior a nota, melhor o aluno. E também eram o determinante para que se passasse de ano ou apenas não levasse xingo dos pais, para que finalmente se conseguisse concluir os "estudos", tão desejados pelos pais, professores e mercado de trabalho, e tão odiados pelos alunos.


O problema é que as notas, em grande parte dos casos, não significam nada. Dá-lhe decoreba pra passar naquela matéria desgraçada que você não entende patavinas. E depois da prova, não lembrar nem qual era o assunto. A vida escolar inteira isso acontecia, seja em pequenas ou grandes escalas.
Sendo assim, concluiu-se a escola, cumpriram-se as médias, decorou-se o que não se aprendia e aprendeu-se o que se gostava e/ou entendia. Agora, é hora de correr atrás do que se quer para o futuro.


As exatas sempre foram um problema imenso para mim, e do grande conteúdo que vi, pouco aprendi e muito decorei e esqueci. Gostaria que não tivesse sido assim, mas talvez por falta de esforço ou de capacidade cognitiva, decorava e colava apenas pra passar. Mas assim que me livrei das exatas, corri para algo que realmente me interessasse. E acredito que é assim que acontece com a maioria das pessoas, sempre em busca do que se têm realmente vontade de fazer.
E diante de um estudo para algo que se quer fazer, esqueça as colas ou os decorebas. O que é aprendido agora é fundamental para o futuro pessoal e principalmente profissional. Se não aprendi direito, eu que corra atrás do prejuízo, porquê não posso correr o risco de afetar outras vidas por causa da minha displicência.
A faculdade não é perfeita, existem matérias chatas e maus profissionais, conteúdos que deveriam ser menos explorados e conteúdos que deveriam ser melhor explorados, mas nem assim justifica-se colar ou decorar um conteúdo apenas pra passar. Não foi capaz ou não pode aprender? Arque com as consequências e estude melhor depois. Acredite, prosseguir sem capacidade só te torna mais burro.


Mas o que mais me enche de indignação é ver que a maioria das pessoas não têm essa concepção e realmente acha que o importante é só passar.
Tudo bem se você não gosta da matéria, tudo bem se você não tem tempo para estudar, tudo bem se você acha os professores péssimos, tudo bem se sentir assim, de verdade, eu sei que o sistema é mesmo um lixo, que ninguém dá o real valor à nada e que as coisas não deveriam ser assim... Mas isso não justifica se infiltrar no sistema. Então não transfira a sua culpa. Nem a sua falta de responsabilidade.


Pois o único responsável pelo seu futuro, seu empenho e por não tentar algo melhor, é você.
E num futuro bem próximo, o único responsável por ter arruinado a vida de alguém infelizmente também será você.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Sobre gente que é não humana e humanos que não são gente


Acho legal e necessária toda essa vontade de mudar o mundo, esse ideal de lutar contra as injustiças, de brigar para que todos tenham um lugar ao sol... Eu sou a favor.
E sou contra.
É que eu tenho levado tanto choque de realidade, visto tanta atitude boa se anulando em meio a tanta desgraça, que eu me desacredito, me visto de realidade e sinto pena daqueles que tomam por objetivo de vida mudar o mundo. A gente muda mas o mundo não muda, então chega uma hora que cansa.
Mudar a si, mudar o outro, mudar o mundo... parece tudo tão utópico e inalcançável. E por vezes, tão hipócrita.
Porque você não larga mão da sua cama quentinha nos dias de frio pra fazer justiça aos descamados. Você não abre mão do seu almoço só para fazer justiça aos esfomeados.
De caridade se sobrevive mas não se ganha vida, pois uma coisa é tentar tornar o mundo um lugar mais justo, outra coisa é achar e esperar que todos pensem da mesma forma, seja sob pressão, seja sob aceitação. Porque o real problema é o sistema, está no sistema e sempre será o sistema.
Não, não sou idiota a ponto de achar que me nivelar às condições de quem está na pior é o que tornaria o mundo um lugar mais justo. Não é isso.  É que me soa tão hipócrita você dar alimento a quem tem fome só na hora da extrema necessidade, ao invés de lhe oferecer as condições de vida que você considera justas...
Já fomos engolidos pelo sistema há muito tempo, e nem fomos nós, foram nossos antepassados.
E qualquer ato altruísta sempre foi e sempre será egoísta, porque viver no conformismo e desigualdade quando se é humano dói. Ver o respeito sendo desrespeitado dói.
E eu sou humana. E eu sei que dói.
Por isso eu ainda não desisti de ser hipócrita. A minha postura não é uma questão de pessimismo ou conformismo, mas sim uma questão de realidade. Eu não vou deixar de fazer minha parte, aonde eu puder mexer eu mexo, mas não vou mover montanhas ou chamar o síndico, porque sei que se exaltar não resolve, porque sei que enquanto três se movem, treze se calam. Eu não vou sair da minha zona de conforto esperando que os outros façam o mesmo, eu não vou dar meu braço a torcer esperando que se importem.
Me desculpe sociedade, mas o sistema me engoliu. Na verdade eu já nasci no estômago dele, em meio aos ácidos e degradação. Eu sou o sistema e o sistema sou eu.
E todos aqueles que repudio.
E todos aqueles de quem sinto pena.
E tudo que me envolve, me alimenta e me destrói.
E esta é apenas uma ilustração da minha luta pela sobrevivência. E a dos outros também. Um gigantesco campo de batalha aonde os últimos serão apenas últimos e os primeiros ganharão dinheiro.
Eu vivo aonde ser forte é ser fraca de espírito, e ser fraca é gritar por mudança em meio á multidão.
E, sinceramente, eu não sei se é melhor ser forte ou ser fraca.

Sobre o que é ser humano e o que é ser gente

No planeta que eu vivo, dentre tantas coisas que respiram, fermentam e fazem fotossíntese, moram pessoas. E eu costumo classificar essas pessoas em humanos, gente, gente que não é humana e humano que não é gente.
Humanos são aqueles seres que sabem que respeito é o que acaba quando começa a raiva do outro, por isso eles respeitam uns aos outros e às outras coisas que moram no planeta.
E eles também gostam de falar de amor e de sentimentos bons. São seres curiosos, acho até que são raros... Só que às vezes eles se gostam tanto que só vivem entre eles. Esquecem de ser gente.
Ah é: gente são aqueles seres que moram no planeta. Todas as pessoas do planeta. Só que apenas alguns deles são humanos, embora todos devessem ser...
O planeta tá cheio de gente, porque quando você vive em sociedade você ganha o nome de gente, você vira gente. Você só aprende a ser humano sendo gente antes. E se você quiser, até dá pra ser só humano depois... mas deve ser meio chato ser humano e não ser gente. Também dá pra ser gente sem ser humano... mas isso é o que costumo chamar de gente chata. Tem umas outras palavrinhas pra isso também, mas é melhor evitar.
E o que mais me deixa curiosa nisso tudo é essa gente que não sabe ser humana, e esses humanos que não sabem ser gente...

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Respeito para com a Liberdade

A busca pelo entendimento do mundo é uma procura constante do homem. Mais constante ainda é a busca pelo entendimento do próprio ser.

Decorrente desta linha de pensamento, muitos filósofos tentaram explicar o ser humano e as relações humanas. Chegaram a algumas conclusões, mas nada tira o mistério que ainda envolve estas linhas de pensamento presentes entre um ser e outro.
A pergunta é: Qual a ligação existente entre as diversas atitudes e as diversas reações humanas? Por justamente ser complexo e livre, estas questões são difíceis pra nós, humanos. O fato é que o que talvez seja certo pra você, seja errado pra outrem, e vice-versa. Percebendo isto, vemos que nossa liberdade de expressão é relativa quando envolve mais dos mesmos. Sua liberdade termina aonde começa a do outro, e assim por diante.
A grande questão envolvendo isto tudo é como lidar com a liberdade limitada. Ao contrário do que muitos pensam, liberdade não é ser livre para fazer o que quiser, e sim ser livre para respeitar e receber o respeito alheio, caso contrário, as relações humanas se tornam intrincadas de mínimas e tolas complicações, que nada mais são do que o choque entre os “respeitos alheios”. Reparando mais a fundo, fica claro que a existência desta relação respeito-liberdade é mal utilizada e mal desenvolvida por nós, seres declaradamente - para os que queiram ou não ouvir - racionais!
Portanto, o ideal para nossa sociedade seria a introdução de um ensino e educação reais, para que assim houvesse uma utilização grande ou se possível completa dessa racionalidade que temos, pois somente desenvolvendo-a seríamos capazes de atingir o ápice de nossa inteligência: ver o próximo como nós mesmos.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Solidão

As coisas estão vazias,
e o vazio cheio de coisas.
Vazio que se consome
no infinito que ninguém vê.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Rotina

As pessoas fingem que entendem.
Os homens fingem que são todos iguais,
As mulheres fingem que não.
As pessoas fingem se importar,
Outras fingem que esqueceram.
É tanto fingimento que nem faz mais diferença,
a única coisa que não querem é ter que fingir que são felizes...

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

(you're not) null

Não há nada que possa dizer,
ou fazer,
nada acaba,
só modifica.
Quem tem olhos não vê,
finge que enxerga.
Mas eu não uso mais colírios,
paciência.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Depois

O que sai da minha boca se transforma no ouvido de quem escuta.
Palavra sabe ter quase o mesmo peso de atitude.
O que é omitido tem motivos pra ser, assim como o que é dito.
Não se diz A a quem só consegue ouvir B.
Demorei mas entendi.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Portas

Estão fechadas.
Mas gire a maçaneta, pode ser que ache alguma coisa destrancada.
Olha, achou.
Mas cuidado ao abrir.
Calma, não desista ainda, é só um alerta.
Atente ao que você pode encontrar e ao que podem dizer, só isso.
Mas qualquer coisa, vire as costas e feche-a.
Só tenha a certeza de que se mudou alguma coisa ali dentro, foi pra melhor.