sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Viver é melhor que sonhar


As músicas continuam tristes, mas não como um dia foram. São mais dramáticas e menos realistas. Doem menos, confortam mais.
Seria frieza? Talvez, se frieza for entendida por jatos d’água em meio a um incêndio sufocante.
O nó no estômago e as sensações angustiantes persistem, mas não da mesma forma ou freqüência de algum tempo atrás. São breves e suportáveis, esperadas e edificantes.
Seria conformismo? Talvez, mas alguma espécie de conformismo saudável e maduro, ancorado numa espera dinâmica e sem pressa, tranqüila, pacífica.
Os sentimentos continuam em uma montanha russa, mas bem menor e bem menos veloz, praticamente prestes a parar. Eles se parecem com desespero, lembram angústia e exalam irracionalidade. Mas trazem certeza na fé, e fé na certeza.
 Seria desistência? Talvez, mas alguma espécie de desistência da imaturidade, desistência do desamparo, desistência da angústia.
A cronologia nada diz a respeito do tempo que realmente vivemos. São apenas números, impostos por alguém que era bom em cálculos em tempos passados.
O verdadeiro tempo traz memórias, idéias e reflexões que são vistas como válidas ou não em referência as horas do dia ou aos números no calendário, quando na realidade deveriam ser interligadas com a intensidade e a veracidade com a qual são sentidas, ganham vida e são vida.
Não são relógios ou calendários que determinarão o sentido de uma espera, mas sim as experiências e os sentidos atribuídos à ela. Existem diversas frases feitas a respeito da forma com que se deve encarar a vida, como se manuais iguais correspondessem a seres humanos diferentes, como se os sentidos de uma vida pudessem ser facilmente atribuídos à outra, como se cada um de nós não fosse único e complexo o suficiente para se explicar apenas a si.
No calendário, a cada página virada o meu tempo se esvai depressa. Por mais que a lentidão das horas consuma o pensamento, ao fim de todas elas o sentimento é de sabedoria, numa espécie de certeza absurda, inexplicável e real de que tudo é capaz de se tornar cada vez mais sincero e equilibrado, acronológico e maduro. Que há sempre chances para quem deposita suas esperanças em alguma fé, e que na espera eu sou capaz de reconhecer minha sabedoria e abrigar meu tempo.
Eu não conto mais meus dias; eu vivo.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Fantasmas Permanecem

Texto escrito por meu amigo Gustavo de Campos, que tem visto de perto os acontecimentos na USP. Apreciem!


Socialismo, capitalismo. Esquerda, direita. Desculpem-me, prefiro não escolher lados. Não entendo isso como omissão ou justificativa para uma suposta passividade. Prefiro pensar que estou “do lado de cima” simplesmente e por isso consigo ver com menos obstáculos, mesmo correndo o risco de ser surpreendido por alguma passageira nuvem. Arrisco dizer que são esses obstáculos que nos impedem de ver o quão podres estão as entranhas legislativas, executivas e administrativas de nosso país ou o quanto necessitamos de uma educação renovada e não atada ao que nos mantém em estado permanente de torpor.
Tenho visto e acompanhado de perto os acontecimentos na Universidade de São Paulo, uma vez que estudo na mesma, e parece-me a instauração (consolidação ou exposição talvez melhor me expresse) de uma ditadura sob a sociedade tão facilmente guiada pelas luzes da mídia. Ditadura sim. Ou você acha que ditaduras se baseiam apenas em torturas, pessoas jogadas no meio do oceano e governos militares à moda antiga? Toda ditadura que se preze sabe controlar as massas, mantê-las sem informação alguma ou afogadas em falácias. Pensamento livre é um perigo maior do que qualquer guerra. O manual da boa ditadura também prevê, como resultado da privilegiação de uma classe e a tentativa de eterno controle do poder, pequenos focos de resistência vindos de alguns badernistas que, por coincidência, estudam e pensam a cidade e a sociedade. Mas o que podem fazer esses arruaceiros quando toda a anestesiada sociedade também os julga assim depois de já estar espumando pelas ventas mentiras tão bem contadas? Vão morrer na praia, certeza. Tenho que dar o braço a torcer: não seria tão inteligente a ponto de bolar um plano de tamanha eficácia; que fantásticas máquinas essas ditaduras.
Fatos como a não pacífica operação dos mais de 400 policiais na reitoria da Cidade Universitária, a denunciada manipulação da depredação ocorrida dentro da mesma, a omissão do real número de protestantes na passeata realizada no centro da capital paulista ou a presença da PM, na Cidade Universitária ou não, que nunca foi o verdadeiro problema, mas este o é sua subordinação a um governo tamanhamente corrupto podem ser mais bem esmiuçados ou compreendidos em blogs e textos que circulam pela internet em geral e, principalmente, em suas redes sociais. É só preciso correr atrás dos mesmos e, ainda que neles, ativar o filtro e caprichar no discernimento. O que pretendo realmente abordar aqui é a questão da equiparação de certos protestantes com a ditadura militar brasileira e a massiva opinião pública que, após chama-los (chamar-nos pode me apetecer mais) de vagabundos maconheiros, acusa-os de um delírio revolucionário. Não, não perseguimos o coelho até a toca. Ou talvez até tenhamos perseguido aquela bola de pelos brancos, mas não entramos. Não acho que existam mais aqueles fatos escancarados da época da ditadura em que pessoas eram colocadas na cadeia apenas por suas ideias e quem perguntasse ao governo o porquê de tal prisão seria respondido, senão com sua própria prisão, com um “porque ele pensa diferente de nosso regime” ou mesmo órgãos exclusivamente voltados ao desaparecimento de indivíduos, tampouco concentrados em seu encontro com os peixes do oceano. O que ocorre hoje é muito mais sútil, camuflado; tudo envolto em uma aura democrática e benevolente.
Uma vez com a mídia em seus bolsos, e consequentemente a grande maioria da população em coma profundo, o governo (ou governo seria um eufemismo para controle total?) passa a atacar os possíveis focos de proliferação do mosquito da consciência crítica: as universidades que, ainda, não se encontram sob seu circulo de amizades. Contudo, ao contrário do mosquito da dengue, não morreremos com inseticida ou seremos evitados com areia no pratinho e nossa proliferação não se dá em água parada, mas sim na agitação da mesma pelas injustiças podres que nos atiça o olfato. De forma alguma quero colocar os protesto e atitudes até então tomadas como algo de pura coerência em sua totalidade, mas, com o passar do tempo e fortalecimento dos objetivos e ideais, as coisas se tornaram (e continuam se tornando) cada vez mais legítimas, justas e verdadeiras. Não estamos inebriados ao som do flautista e sabemos que a “Revolução de 64”, pela qual a PM mantém uma estrela em sua manta, foi-se a muito e o contexto é diferente, é outro. O que não se faz diferente é a corruptividade do ser humano frente à possibilidade de poder e enriquecimento. Também não nos é diferente a luta de alguns que ainda guardam esperanças no espírito humano e acreditam que essa corruptividade é passível de cura ou, ao menos, alento.
Volto a repetir: que fantásticas máquinas essas ditaduras; procuram cortar as ideias diretamente na formação de quem as futuramente terão. Ato este que esclarece bem os seus objetivos de manter vigente um poder privilegiador de uma elite monetária e aristocrática. E, por favor, não venham rebater isso dizendo que é uma visão esquerdista; é apenas a constatação que muitos não fazem por incapacidade não culpável, alguns poucos por incapacidade culpável e outros por conformismo. Então que essas linhas escritas no dia 15 de novembro, comemoração do ambíguo dia de proclamação da república em nosso país, misto de ideal libertário e nova forma de controle da elite monetária, assim como outros que por aí circulam, seja um inicio para não uma aceitação sem resistência do que aqui foi lido, mas sim um estímulo para a procura de informação em meios alternativos que não apenas o conveniente e popular, bem como sua consequente crítica e assimilação. Que se inflame o uso das ideias acima da força, o uso do livre pensamento a frente das cordas da marionete, julgamento de importância e legitimidade de protestos e reivindicações.
Existem protestos e protestos, é claro. Condeno o uso de qualquer tipo de violência, mesmo nas manifestações justas; esse não é o caminho, um soco jamais imprimira uma marca tão forte quanto um texto ou discurso bem fundamentado. Entretanto, os ideais perseguidos pelos protestantes da Universidade de São Paulo e de todas que a nós se juntaram em defesa da digníssima liberdade de pensamento, base de toda sociedade que coloca o ser humano à frente da sublevação de qualquer autoritarismo, se fazem não só justos, mas necessários. Não são fruto de uma juventude inflamada de hormônios pseudo-revolucionários como atesta a horda quase inculpável de credores informativos do estado. Já dizia Eduardo Galeano, a quem hoje ouso chamar de mestre: desde que entramos na escola ou na igreja, a educação nos esquarteja: nos ensina a divorciar a alma do corpo e a razão do coração. Nossa alma e corpo aqui são um único ser, um expressão do outro, movido pelo seu par e desejoso de tatear os ares de uma educação renovada e digna de libertar-nos das amarras que tão passivamente aceitamos vindas do altar luminoso, comunicação com a divindade autoritária-democrática. Razão e emoção também aqui não são Caim e Abel; se é que essa distinção, teórica que seja, pode existir, acredito que a razão pondera nossos atos e coloca nossos argumentos nos lugares que almejamos, mas o coração conecta essas palavras jogadas ao ar com o coração de outros que estejam abertos a ouvir. Se é que essa divisão, uma vez que não pode ser realizada na torrente das ações e resultados, pode ser ao menos teorizada e hereticamente insultando Galeano, afirmo: a razão escreveu este texto, mas foi o coração que pediu.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Angústia

Está calor - mas apenas lá fora, já que o suor é frio.
No estômago deram um nó e na boca só se têm sede
(não é de água, o estômago não permitiria).
Peço por segundos de paz à espera da resposta,
mas - por Deus! - eu sei que só a resposta trará paz.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Primavera?


Eu quis cuidar do seu jardim, mas as rosas estão murchando antes de florescer.
A terra é boa, mas as ervas daninhas estão sufocando os botões e não posso arrancá-las pois estão na raiz.
Tentarão as rosas crescerem sufocadas ou morrerão todas?
São flores fortes, mas acho que precisam de cuidados maiores.
Ainda quero cuidar do seu jardim...



domingo, 6 de novembro de 2011

Solidão #2

O vazio se consome novamente,
agora num finito visível,
mas será realmente oco?
Não pode ser; não é
Mas quem disse que era certeza?