quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Esvaziou-se


Da mesma forma que fizera com as folhas do outono e com o frio do inverno, decidiu por livrar-se e aquecer-se.
Carregava suicídios de outros carnavais, embora não demonstrasse os corpos na bagagem. Se pensasse em quantos suicídios alguém é capaz de carregar, talvez não soubesse como proceder diante do próximo.
Pensou pouco e não hesitou em conformar-se que soaria de forma tão igual que doeria por ser tão diferente.
É que nunca fora um ato simples, tampouco seria agora, munido de novas memórias somadas às antigas lembranças...
Incapaz de imaginar, apenas começou a sentir, e a dor era tão concreta… Era praticamente palpável naquele peito arfante pressionado pelo travesseiro velho, ambos incansáveis à mesma melodia fúnebre e linda, única e repetitiva.
Tão bela e angustiante era a morte, quanto mais a de si.
Enquanto tudo prosseguia, a calmaria arrastava-se aos passos lentos da coragem de um suicídio. Jamais  acreditara realmente que esvaziar-se doeria mais que a partida.
Nada a ser feito agora. O vazio se alimenta daquilo que lhe conforta e sendo assim, encontrara em si seu repouso.