As músicas continuam tristes, mas
não como um dia foram. São mais dramáticas e menos realistas. Doem menos,
confortam mais.
Seria frieza? Talvez, se frieza
for entendida por jatos d’água em meio a um incêndio sufocante.
O nó no estômago e as sensações
angustiantes persistem, mas não da mesma forma ou freqüência de algum tempo
atrás. São breves e suportáveis, esperadas e edificantes.
Seria conformismo? Talvez, mas
alguma espécie de conformismo saudável e maduro, ancorado numa espera dinâmica
e sem pressa, tranqüila, pacífica.
Os sentimentos continuam em uma
montanha russa, mas bem menor e bem menos veloz, praticamente prestes a parar.
Eles se parecem com desespero, lembram angústia e exalam irracionalidade. Mas
trazem certeza na fé, e fé na certeza.
Seria desistência? Talvez, mas alguma espécie
de desistência da imaturidade, desistência do desamparo, desistência da
angústia.
A cronologia nada diz a respeito
do tempo que realmente vivemos. São apenas números, impostos por alguém que era
bom em cálculos em tempos passados.
O verdadeiro tempo traz memórias,
idéias e reflexões que são vistas como válidas ou não em referência as horas do
dia ou aos números no calendário, quando na realidade deveriam ser interligadas
com a intensidade e a veracidade com a qual são sentidas, ganham vida e são
vida.
Não são relógios ou calendários
que determinarão o sentido de uma espera, mas sim as experiências e os sentidos
atribuídos à ela. Existem diversas frases feitas a respeito da forma com que se
deve encarar a vida, como se manuais iguais correspondessem a seres humanos
diferentes, como se os sentidos de uma vida pudessem ser facilmente atribuídos à
outra, como se cada um de nós não fosse único e complexo o suficiente para se
explicar apenas a si.
No calendário, a cada página
virada o meu tempo se esvai depressa. Por mais que a lentidão das horas consuma
o pensamento, ao fim de todas elas o sentimento é de sabedoria, numa espécie de
certeza absurda, inexplicável e real de que tudo é capaz de se tornar cada vez
mais sincero e equilibrado, acronológico e maduro. Que há sempre chances para
quem deposita suas esperanças em alguma fé, e que na espera eu sou capaz de
reconhecer minha sabedoria e abrigar meu tempo.
Eu não conto mais meus dias; eu vivo.
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